Senhor Zelner,
Viemos por meio desta falar um pouco de um documentário francês « Indios da Amazônia, o último combate » http://www.youtube.com/watch?v=rjZTfsD1c6g , realizado por Laurent Richard em 2013. Como indica o título do documentário, pensavamos nos deparar com mais um filme sobre a situação de povos indígenas da nossa terra. Esperavamos ver o clássico, ou seja, falarem do desmatamento, da demarcação de territórios indígenas, das dificuldades encontradas pelo IBAMA para fiscalizar o tráfico de madeira nobre, as dificuldades da justiça, da FUNAI; enfim todas as dificuldades que o nosso Governo tem enfrentado ao longo desses anos, visto a extensão territorial e a riqueza que abriga esta floresta. No entanto, este documentário vai além, pois desde o início informa que o cidadão francês tem uma enorme responsabilidade enquanto consumidor, uma vez que a França é o maior importador na europa da nossa madeira.
Indo ao âmago da questão, podemos simplificar que se trata da extinção do povo Awa-Guajá que vive no Estado do Maranhão, considerado o povo mais ameaçado do planeta e um dos últimos colhedores-caçadores existentes na terra. São 450 ao total, dos quais 100 não mantém nenhum contato com os brancos. No final do documentário o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo se compromete a evacuar deste território os não indígenas. Promessa que temos a satisfação de saber que está sendo cumprida desde o dia 6 de janeiro de 2014. Sabemos que o lobby dos madereiros e dos ruralistas é poderoso. Sabemos que é complexo para a justiça, a FUNAI, o IBAMA protegerem a floresta e os índios dos grandes interesses, pois existe muito dinheiro em jogo.
Como dissemos mais acima, o maior importador de madeira do Brasil dentro da europa é a França. E o maior comerciante importador de madeiras é o sr. Emmanuel Guillemette.
A família Guillemette é conhecida em toda região do Havre por importar a nossa madeira (há quatro gerações) e é « acessoriamente » o consul honorário do Brasil para toda região da Normandia.
O fato de comprar a nossa madeira não o desonra. Obviamente que, como consul honorário, deve conhecer perfeitamente a legislação brasileira, uma vez que representa o nosso Estado em toda uma vasta regiao da França.
E portanto, o sr. Guillemette compra regularmente madeira proveniente de duas empresas que além de serem perseguidas pelo IBAMA , respondem a vários processos em justiça -a Pampa e a Rancho da Cabocla- conhecidas por fraudes na documentação da origem da madeira e tráfico. A justiça faz o seu trabalho, mas não somos ingênuos ao ponto de imaginar que logram sistemáticamente incriminar os culpados por fraude. Provavelmente o simples fato que estas duas empresas, Pampa e Rancho da Cabocla, terem um grande passivo nesta área é um fato que não devemos ignorar, que é carregado de senso.
Quanto ao sr. Guillemette, ele exerce a função de consul dentro da própria empresa. Fixado em uma porta se lê « Consulado do Brasil » e ao entrar se observa uma sala pintada de amarelo, uma bandeira do Brasil e de maneira visível a foto oficial da presidente Dilma Roussef.
E quando indagado sobre a procedência da madeira comprada por sua empresa, o sr Guillemette afirma não dispor de meios de averiguaçao. E quando pressionado, sabendo que como Consul está integrado ao Estado brasileiro, esquiva-se ; subitamente não sabe responder, sobretudo diante da evidência que o IBAMA mantém em dia a lista dos traficantes e perseguidos pela justiça por crimes florestais, dos quais constam dois de seus fornecedores. Além disso, foi ilustrativo ouvir este senhor quando indagado sobre os indígenas. Franco e direto responde que parece desproporcional manter sobre territórios que podem ir até 10 mil hectares somente 300 indivíduos ; bem que ao mesmo tempo ele reconheça que existe um dever de memória, de proteção, que o Estado brasileiro deve ter em relação aos povos indígenas. E acrescenta que estes estão fadados a desaparecerem, pois anseiam viver em mundo centrado no consumismo como todo o resto da sociedade….
Tendo dito tudo isto, nos vemos na obrigação de perguntar a sua posição sobre a manutenção deste senhor no posto de consul honorário no Havre.
Aproveitamos para lhe informar que contamos questionar a Ministra Maria Luiza Ribeiro Lopes e Silva através da ouvidoria do MRE a este respeito. Além disso os demais representantes dos brasileiros no mundo estão ao par da situação e a consideram, como nós , na França, extremamente embaraçosa esta situação.
Agradecemos a sua atenção e aguardamos a sua resposta.
Respeitosamente,
Camille Cabral, Amélia Camp, Carla Orlandina Sanfelici, Esdras Ribeiro e Silva, Joao de Oliveira e Lamartine Biao Oberg,
Indiens d’Amazonie, le dernier combat www.youtube.com