“Acerca de”, “a cerca de” ou “há cerca de”?

Betty Vibranovski

Quais frases estão corretas?

A praia do Leblon fica acerca de 2 km daqui.
A praia do Leblon fica a cerca de 2 km daqui.
Eles estavam falando a cerca de política.
Eles estavam falando acerca de política.

ACERCA DE

Equivale a “sobre”, “a respeito de”.

Eles estavam falando acerca de política.

A CERCA DE

Equivale a “a distância (no espaço ou tempo) aproximada de”, “a aproximadamente”.

A praia do Leblon fica a cerca de 2 km daqui.
A praia do Leblon fica a cerca de 5 minutos de bicicleta daqui.

HÁ CERCA DE

Equivale a “existem aproximadamente”; “faz aproximadamente”.

Há cerca de vinte pessoas na sala.
Isso aconteceu há cerca de seis meses.

De graça, até opinião sobre o ato de escrever

Betty Vibranovski

Nesta postagem, M. Hatank, cujo livro de estreia, “Ypy”, tive o prazer de revisar, fala sobre o processo de escrita de um romance.

Por M. Hatank

Dizem que todo brasileiro é um técnico de futebol. Eu acrescento que alguns brasileiros têm opinião sobre o processo de escrever. Eu sou um deles. Veja bem que eu não falo em dar conselhos ou sugestões, algo que não tenho condição de fornecer, mas apenas em compartilhar com outros amantes amadores das letras algumas opiniões pessoais sobre essa arte que nos encanta a todos.

Começo dizendo que uma boa forma de criticar uma atitude é simplesmente dissecá-la em público, em vez de tecer comentários negativos a seu respeito. Meu avô costumava dizer que dois substantivos bem empregados podem ser mais eficazes do que dez adjetivos em grau superlativo. O grande problema desse tipo de crítica é que ela precisa ser muito bem trabalhada, e você terá de construir uma cena que leve o leitor a pensar como você, o que não é fácil. Como bem ensinam as aulas de retórica, é mais fácil persuadir com um porrete do que convencer com o gogó.

Nunca tente transpor para outras épocas valores do presente, nem para a sociedade atual valores que são apenas teus ou de uma minoria. Veja, por exemplo, a questão do racismo. Você seguramente se lembra do antológico capítulo “O Vergalho” em Memórias Póstumas de Brás Cubas, no qual o escravo alforriado Prudêncio chicoteia na rua um escravo que ele mesmo comprara. Imagine agora que você tem de escrever uma cena semelhante que se passa no início do século XXI. Nessa cena, um patrão negro e rico está dando um esporro em seu empregado negro, pobre e alcoólatra na frente dos colegas de trabalho. Nesse instante, entra na sala um senhor branco e rico, que pagou os estudos do patrão negro, que era filho da empregada dele. Qual será a melhor maneira de criticar a nossa sociedade?

Você pode colocar palavras de revolta na boca do alcoólatra, que é uma vítima da sociedade, e mostrar também o apoio que ele recebe de um colega de trabalho com mais consciência social, que se revolta contra o patrão. Depois de mais algumas ofensas do chefe, o alcoólatra parte para cima do patrão, mas é contido pela turma do deixa-disso. O patrão logo se arrepende da injustiça que está cometendo com outro negro, não sem antes se recusar a apertar a mão estendida pelo homem branco, que vira a cara e diz: “Vocês crioulos são todos iguais, e é por isso que jamais permitirei que minha filha se case com um negro”.

Outra maneira seria mostrar o bêbado, que realmente é um funcionário medíocre, estoicamente aceitando a humilhação, já que tem contas a pagar e precisa comprar remédio para o filho doente. Os outros funcionários não dizem nada porque temem perder o emprego (não estamos numa repartição pública, mas numa empresa privada). O patrão que está dando o esporro, por sua vez, age como um desses arrivistas prepotentes que gostam de exibir sua riqueza recém-adquirida com carros e relógios caros. E o senhor branco que narra o que aconteceu mostra-se um insensível, sobretudo quando ele aparece com uma explicação superficial para a atitude do patrão, que seria a de que basta dar um pouco de dinheiro e poder para as pessoas para que elas mostrem quem realmente são. Pergunto eu então: qual cenário é mais fiel à nossa realidade? Qual cenário pode levar um leitor a refletir sobre questões que nos afligem?

Infelizmente, o mundo não é como nós gostaríamos que fosse, e um erro comum é criar um mundo falso em vez de pintar o real. A melhor maneira de tentar mudar o feio mundo lá fora é realmente enfiando o dedo na ferida, e não distorcendo a realidade.

Tenha em mente que o panfletário engajado é antes de tudo um chato, como costumam ser os recalcados, os mal-amados e os malresolvidos de modo geral. O panfletário também costuma ser monotemático e frequentemente só enxerga o mundo através da ótica de sua obsessão, que ele identifica em todos os lugares e pessoas. Outra característica desse tipo de gente é a falta de senso de humor, especialmente se sua causa sagrada for o objeto da piada. Resumindo: o panfletário é como aquele sujeito inconveniente no churrasco do fim de semana, que antes da segunda cerveja já criou um climão com algum convidado. Contenha então a tua sanha proselitista quando estiver com o espeto e a caneta na mão. Você pode ser de direita ou de esquerda, e mostrar todo o horror de sistemas que trazem à tona o que há de pior no ser humano, mas faça isso como Rubachov e Urania Cabral fizeram em O Zero e o Infinito e A Festa do Chibo, e não com palavras de ordem e slogans.

Crítica política, social e de costumes pode e deve ser feita, mas sempre a partir do indivíduo, do contrário o teu livro vira tese de sociologia ou ciência política. Sistemas exploram, oprimem e matam, mas são seres humanos que criam, manejam e padecem sob esses sistemas. A verdadeira literatura só tem um tema: o ser humano, que não mudou muito nos últimos milhares de anos, como se percebe até pelo vocabulário. Em grego antigo e latim não temos palavra para televisão ou automóvel, mas temos para amor, inveja, esperança, cobiça e todo o resto de nossas emoções. É por isso que, ao falarmos de nossa aldeia, isto é, da gente da nossa aldeia, falamos do mundo.

Procure ser tão claro e didático quanto possível. A clareza é importante por um motivo óbvio: quando você escreve algo, você quer que o leitor entenda o que você quis dizer. Pouca gente se dá conta disso, mas escrever de maneira clara exige coragem porque não dá para esconder as incongruências e falhas da mensagem por trás de uma cortina de palavras.

Escrever com clareza, no entanto, não significa que você deve expor tua mensagem de maneira burocrática e absolutamente fiel à realidade o tempo todo. Admirar e buscar o belo, esse conceito tão subjetivo e mutante, é um dos traços que nos definem como humanos e nos separam do resto da fauna que habita o planeta. Você pode fazer com a realidade o que Monet fez com nenúfares e o que Klimt fez com Adele Bloch-Bauer. Pode fazer um céu estrelado hipnotizante como Van Gogh e criar um mundo onírico como o de Marc Chagall. Voltando à “releitura de Prudêncio”, você pode até trazer o Zumbi dos Palmares e o Olodum para a cena, nos levar para um passeio aéreo sobre o canavial de um engenho e ainda vestir o branco insensível com uma roupa da Ku Klux Klan, só que precisará trabalhar bastante a cena para poder tocar o leitor. E essa dificuldade será ainda maior se você descrever o que se passou com longas frases do tamanho de páginas, sem pontuação alguma e recheadas de neologismos e gírias desconhecidas.

Friso a importância da clareza por uma razão frequentemente esquecida: o pintor mostra sua realidade diretamente ao público, mas o escritor só pode descrever a dele. Tenha sempre em mente que o escritor é acima de tudo – ou simplesmente – um contador de histórias. Tarsila do Amaral poderia te pegar pela mão e apontar o Abaporu na parede, mas Oswald de Andrade precisaria transmitir aos amigos, sem que eles vissem, o cacto, o sol, a cabeça pequena e o pé enorme. É essa a diferença entre os retirantes de Portinari e a família retratada por Graciliano Ramos em Vidas Secas.

Veja bem, você poderá até narrar de tal maneira que a narração se desprenda do que foi narrado e adquira vida própria. Não há nada de mais nisso. Existe a arte pela arte e o belo pela beleza, só que aí você abdica de alguma coisa. Se você transpuser um Pollock ou um parangolé do Hélio Oiticica para um livro, poderá criar algo muito interessante, mas será incompreensível e poderá no máximo despertar uma sensação no leitor. Há que se ter muito cuidado quando se pula do tangível ao onírico. Se você é incapaz de decifrar os próprios sonhos, não espere que os outros o façam. Mal comparando, eu diria que um livro pode chegar ao impressionismo ou mesmo ao cubismo, mas quando você começa a jogar baldes de palavras em páginas em branco você deixa de ser um contador de histórias.

Gostaria também de dizer que na faculdade tive um professor de literatura que costumava lamentar a inexistência de um ponto de ironia, que seria útil para que nós alunos entendêssemos direito o que líamos. Hoje percebo que ele estava sendo irônico ao dizer aquilo e que o tal ponto de ironia seria tão inútil quanto um ponto de piada, cujo emprego jamais teria a capacidade de nos fazer rir de uma anedota mal contada.

Digo isso para que você não desanime caso o leitor não ria das tuas piadas e ainda te acuse de racista pela descrição da briga do patrão com o empregado alcoólatra. Caso isso ocorra, das duas, uma: ou você não soube escrever e deveria tentar a sorte em outra atividade, ou o problema está em quem lê livros como um robô processa instruções de programas, isto é, atendo-se unicamente ao sentido literal da palavra, sem pensar ou sentir. Infelizmente, sempre haverá aquela minoria convencida de que um autor mulato que conta o episódio envolvendo Prudêncio com tanta naturalidade e sem demonstrar um pingo de indignação só podia ser conivente com aquilo tudo.

Acho melhor parar por aqui. O texto já está muito longo e todos têm muito o que fazer. Caso você tenha interesse em saber se essas ideias funcionam na prática, te convido a conhecer a curta e interessante história de um sujeito que foi de Maragogipe a Salvador atrás de um emprego, que você encontra aqui pelo preço de dois cafezinhos.

Um abraço do M. Hatank

Nem eu nem você PODE ou PODEMOS dar outra volta no lago? — Casos difíceis de concordância verbal

Betty Vibranovski

Qual a concordância correta?

Um de nós SAIU ou SAÍMOS ou SAÍRAM?
Ele é um dos que VIAJOU ou VIAJARAM?
A maioria dos brasileiros já VOTOU ou VOTARAM?
Não só o aluno mas também o professor ERROU ou ERRARAM a questão?
Nem eu nem você PODE ou PODEMOS dar outra volta no lago?
DEU ou DERAM dez horas?

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1) Um de nós SAIU ou SAÍMOS ou SAÍRAM?

O correto é “um de nós SAIU”.

A concordância do verbo sempre é feita com o núcleo do sujeito. Dica: o núcleo do sujeito é sempre o substantivo ou pronome que antecede a preposição “de”:

Boa parte dos candidatos já desistiu.
Um bando de marginais fugiu.
Muitos de nós leram o livro
Um de nós saiu.

2) Ele é um dos que VIAJOU ou VIAJARAM?

Embora alguns gramáticos considerem a concordância facultativa, a preferência é usar o verbo no plural, para concordar com a palavra que antecede o pronome relativo “que”:

Ele é um dos que viajaram.

O raciocínio é o seguinte: entre aqueles que viajaram, ele é um.

3) A maioria dos brasileiros já VOTOU ou VOTARAM?

Tanto faz. Quando o sujeito tem como núcleo um susbtantivo partitivo (parte, maioria, metade), o verbo pode ficar no singular (concordando com o núcleo do sujeito = maioria) ou no plural (concordando com o nome plural posposto ao partitivo = brasileiros):

A maioria dos brasileiros já votou
A maioria dos brasileiros já votaram.

4) Não só o aluno mas também o professor ERROU ou ERRARAM a questão?

O correto é “Não só o aluno mas também o professor ERRARAM a questão”. O verbo vai para o plural, concordando com o sujeito composto. Quando o sujeito composto é ligado por “não só… mas também” ou “não só… como também”, o verbo deve concordar no plural:

Não só o aluno mas também o professor erraram a questão.
Não só o público como também os organizadores ficaram.

5) Nem eu nem você PODE ou PODEMOS dar outra volta no lago?

As duas formas são aceitáveis.

Nem eu nem você pode dar outra volta no lago.
Nem eu nem você podemos dar outra volta no lago.

6) DEU ou DERAM dez horas?

O correto é “Deram dez horas”. Os verbos dar, bater e soar devem concordar com as horas.

Deram dez horas.
Bateram dez horas.
Bateu meia-noite.

Quando houver sujeito (relógio, sino etc.), o verbo deve concordar:

O relógio deu dez horas.
O sino bateu doze horas.

Extender ou estender? Extendido ou estendido? Extensão ou estensão?

Betty Vibranovski

Qual frase está correta?

Os guias extenderam o horário do passeio para assistirmos ao pôr do sol.
Os guias estenderam o horário do passeio para assistirmos ao pôr do sol.
A sala será extendida.
A sala será estendida

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Frases corretas:

Os guias ESTENDERAM o horário do passeio para assistirmos ao pôr do sol.
A sala será ESTENDIDA.

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Verbo ESTENDER

A grafia do verbo ESTENDER é sempre com S, em todas as conjugações. Dessa forma, a grafia do particípio desse verbo é ESTENDIDO.

ESTENDER tem o sentido de prolongar, aumentar, expandir, esticar, alongar e alargar, tonar mais extenso, entre outros.

Exemplos:

O prazo de inscrição foi estendido.
O gerente estendeu o horário de funcionamento da loja
O arquiteto sugeriu estender esta sala.
Você pode estender mais o fio, por favor? (= esticar)
Vou estender a roupa no varal. ( = pendurar para secar)
Estenda meus pêsames aos familiares. ( = fazer abranger, destinar)

Atenção: não existe o verbo “extender”. Essa palavra não existe.

EXTENSÃO

As palavras cognatas do verbo “estender”, como “extensão” e “extenso”, são escritas com X:

extensão
extenso
extensivo
extensível
extensibilidade
extensor

Exemplos:

Esse caminho é muito extenso.
O curso teve a extensão de três meses.
O diretor vai solicitar uma extensão do pátio da escola.
O convite é extensivo aos filhos.

Aí você vai perguntar: “Se o verbo ESTENDER vem de EXTENSÃO, que é com X, por que ESTENDER se escreve é com S???”.

Resposta: esse é mais um mistério da língua portuguesa.

Regência do verbo PREFERIR

Betty Vibranovski

Qual frase está correta?

Ela prefere viajar de trem do que viajar de avião.
Ela prefere mais viajar de trem do que viajar de avião.
Ela prefere viajar de trem a viajar de avião.

Resposta:

3 – Ela prefere viajar de trem a viajar de avião.

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O verbo PREFERIR é transitivo direto e indireto. Esse verbo exige dois complementos, sendo que um deles é usado sem preposição e o outro com a preposição “a”.

Exemplos:

Prefiro pedalar ao ar livre a ir para a academia
Ela prefere dançar a fazer ginástica.
Prefiro cinema a teatro.
Prefiro português a matemática.

Observação:

Para que haja paralelismo sintático, se usarmos um determinante (artigo, pronome…) antes do objeto direto, devemos usar também um determinante antes do objeto indireto (aquele que vem depois da preposição).

Exemplos:

Prefiro o cinema ao teatro. (ao = preposição “a” + artigo “o”)
Prefiro o português à matemática. (à = preposição “a” + artigo “a”).

Traz ou Trás?

Betty Vibranovski

Quais frases estão corretas?
1) Os ciclistas passaram por traz da casa.
2) Os ciclistas passaram por trás da casa.
3) Que notícias você trás hoje?
4) Que notícias você traz hoje?

Resposta: 2 e 4.

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Traz

É a conjugação do verbo “trazer” na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo.

Exemplos:

Ele traz notícias boas para nós.
O dinheiro traz ou não felicidade?
A água contaminada da enchente traz doenças à população.

Trás

É advérbio de lugar e vem sempre introduzido por uma preposição.

Exemplos:

Não adianta olhar para trás.
Ele saiu de trás do carro.
Ele andou para trás.
O ônibus passa por trás da prefeitura.
Os ciclistas passaram por trás da casa.

Vírgula no lugar de verbo subentendido. Obrigatória ou opcional?

Betty Vibranovski

Qual pontuação está correta?

1) Ela pedalou 50 km, a amiga 45 km.
2) Ela pedalou 50 km; a amiga, 45 km.
3) Ambas estão corretas.

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A vírgula pode ser usada para indicar a omissão de um verbo na frase. Essa vírgula é facultativa. Só é obrigatória em casos de ambiguidade, ou seja, por necessidade de clareza.

Usando-se tal vírgula, a pontuação anterior deve ser ponto e vírgula ou ponto.

Portanto, ambas as frases abaixo estão corretas:

1) Ela pedalou 50 km, a amiga 45 km.
2) Ela pedalou 50 km; a amiga, 45 km.

Exemplos

Pontuações corretas:

O pai se chamava João, a mãe Ana Maria.
O pai se chamava João; a mãe, Ana Maria.
O pai se chamava João. A mãe, Ana Maria.

Na feira compramos verduras, no supermercado café.
Na feira compramos verduras; no supermercado, café.
Na feira compramos verduras. No supermercado, café.

As bebidas foram feitas pelos homens, e as comidas pelas mulheres.
As bebidas foram feitas pelos homens; e as comidas, pelas mulheres.
As bebidas foram feitas pelos homens e as comidas pelas mulheres.

Pontuações incorretas:

O pai se chamava João, a mãe, Ana Maria.
Na feira compramos verduras, no supermercado, café.
As bebidas foram feitas pelos homens e as comidas, pelas mulheres.
As bebidas foram feitas pelos homens, e as comidas, pelas mulheres.

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Fontes:
Manual da Boa Escrita. Virgula, Crase, Palavras Compostas — Maria Tereza de Queiroz Piacentini

A vírgula – Celso Luft

Falta ou faltam dez dias? Falta ou faltam duas pessoas? Falta ou faltam resolver duas questões?

Betty Vibranovski

1/ Falta dez dias para a viagem ou Faltam dez dias para a viagem?
2/ Falta duas pessoas ou faltam duas pessoas?
3/ Falta resolver duas questões ou Faltam resolver duas questões?

Sabemos que o verbo deve concordar com o seu sujeito. Portanto, as frases corretas são:

1) Faltam dez dias para a viagem. Essa frase pode ser lida como “Dez dias para a viagem faltam”. O sujeito de “faltar” é “dez dias para a viagem”.

2) Faltam duas pessoas. “Duas pessoas faltam”. O sujeito de “faltar” é “duas pessoas”.

3) Falta resolver duas questões. A frase pode ser lida como “Resolver duas questões falta”. O sujeito do verbo “faltar” é “resolver duas questões”. Quando o sujeito de um verbo é uma oração (sujeito oracional), esse verbo fica na terceira pessoa do singular.

Outros exemplos:

– Falta comprar ovos.
– Nós vamos ao cinema, só falta comprar os ingressos.
– Faltam duas horas para irmos embora.
– Faltam dois dias para o fim de semana.

Armadilhas de concordância

Por Laércio Lutibergue

Na língua portuguesa, a maioria dos verbos fica depois do sujeito:

– Eu (sujeito) canto (verbo).
– As meninas (sujeito) viajaram (verbo).
– Guilherme e Mariana (sujeito) chegaram (verbo).

O falante escolarizado dificilmente comete deslizes de concordância com esses verbos.

Há, porém, um pequeno grupo de verbos que quebram esse paradigma e normalmente ficam antes do sujeito. Ei-los: “acontecer”, “bastar”, “caber”, “existir”, “faltar”, “ocorrer”, “restar” e “sobrar”.

Com eles, são frequentes erros como “Aconteceu fatos desagradáveis”, “Basta dois gols”, “Falta duas semanas para o Natal”, “Restou muitas dúvidas”, “Sobrou algumas empada”.

Esses erros mostram a importância da ordem “sujeito – verbo” e como o deslocamento do sujeito confunde as pessoas a ponto de elas acharem que o sujeito é um objeto direto.

Para se livrar de erros como esses, há duas orientações.

A primeira: na hora de fazer a concordância é preciso estar ciente de que a ordem “sujeito – verbo” pode estar invertida, pode ser “verbo – sujeito”.

A segunda: saber identificar o sujeito e, para isso, é só perguntar “o quê?” antes do verbo. A resposta é o sujeito.

Vejamos: queremos saber se o certo é “Falta ou Faltam duas semanas para o Natal”. Perguntamos “O que falta?”. A resposta, “duas semanas para o Natal”, é o sujeito. Temos então certeza de que o certo é “Faltam duas semanas para o Natal” e não há risco de sermos traídos pelo deslocamento do sujeito.

Artigo de Laércio Lutibergue originalmente publicados no site Português na Rede.

Curso on-line Português sem Mistério, uma parceria com a Nasajon Educacional

Betty Vibranovski

Olha a novidade!

Acaba de ser lançado o curso on-line Português sem Mistério, uma parceria entre a revisora Betty Vibranovski e a Nasajon Educacional.

Dez videoaulas estão no ar. As duas primeiras podem ser assistidas gratuitamente.

Clique para conferir
https://educacional.nasajon.com.br/cursos/cursos-online/portugues-sem-misterio/

Destratar ou distratar? Destrato ou distrato?

Betty Vibranovski

Quais frases estão corretas?

1) Eles assinaram um destrato que anulou o contrato de locação.
2) Eles assinaram um distrato que anulou o contrato de locação.
3) Ele foi distratado pelo segurança da loja.
4) Ele foi destratado pelo segurança da loja.

Frases corretas:
– Eles assinaram um distrato que anulou o contrato de locação.
– Ele foi destratado pelo segurança da loja.

Destratar – maltratar com palavras, insultar, descompor.

Distratar – desfazer, anular, invalidar, rescindir (contrato, pacto, combinação).

Destrato – ofensa, insulto.

Distrato – anulação, rescisão de contrato.

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Fonte: ABC da Língua Culta, de Celso Luft.