Porque contar histórias ? Um pouco de história da minha história
Por Mirela Estelles
Coluna Brincando
Contar histórias faz parte da minha prática como educadora e artista, como arte educadora, como educadora-artista que tenho experimentado ser. Quem esta a “serviço” de quem ? A educadora da artista ou a artista da educadora, quando conto histórias em diferentes situações?
Estas perguntas foram feitas a mim, recentemente, as quais me fizeram repensar em como, na minha prática, acontece a articulação entre arte e educação. Tal atuação no campo da arte, educação e cultura, acontece de forma integrada e ampla, cuja separação talvez não possa ecoar de forma à significá-las separadamente.
A escolha em contar histórias foi motivada a partir do contato direto com crianças de dois a sete anos, na Escola de Educação Infantil Catavento, na qual trabalhei meio período nos anos de 2003 e 2004. O entusiasmo pela primeira experiência profissional foi somado às demais, que aconteciam durante o meu segundo ano de faculdade no curso de Comunicação das Artes do Corpo na PUC-SP, me motivando a colocar em prática alguns aprendizados e vivências adqueridos até então.
Minha primeira fonte para começar as propostas com as crianças foi o meu próprio repertório enquanto criança. Lembrava-me de músicas, histórias e brincadeiras que gostava e às levava para os alunos na escola. Conversava muito com minha mãe e com uma grande amiga dela que me incentivavam e me mostravam outras possibilidades de propostas no contato com as crianças. Através delas, me deparei com referências importantes, como Antônio Nóbrega, Regina Machado, Câmara Cascudo e Lydia Hortélio.
As referências em relação à expressão e comunicação do corpo e voz, trabalhados diariamente na faculdade, também contribuíram para explorar o universo da narração de histórias.
Assim fui buscando um jeito próprio de me relacionar com cada uma delas, comecei, reunindo, em uma sacola grande, diversos objetos que tinham potencialidade para tornarem-se personagens das histórias, como lenços, chapéu, anel, fios de lã, penas e tules coloridos, casca de côco, pandeiro, ganzá, chocalhos entre outros objetos lúdicos e sonoros. Os ouvintes curiosos, as crianças, apontavam novos caminhos para à escolha de novos repertórios para as narrações, objetos, músicas e brincadeiras; e lá íamos atrás de encontrá-las, brincá-las, contá-las, recontá-las e cantá-las, fazendo com que todos participassem ativamente durante as narrativas.
Interessante observar, como até hoje, acontece o encontro com as histórias. Algumas parecem impossíveis de ser contadas e demoramos a conseguir nos aproximar delas; já outras, sugerem uma série de imagens, músicas, objetos e o encontro é muito prazeroso e fluído. Foi dos bons encontros que construí um repertório de histórias que foram contadas na escola Catavento e em outras escolas também de Educação Infantil, em livrarias, em museus e até em festas de aniversário como presentes aos aniversariantes.
Deste ponto de partida é que sigo hoje com as narrativas – reconhecendo suas especificidades enquanto linguagem e explorando o seu espaço integrador de outras frentes artísticas, como o teatro, a música e as artes visuais, e também como potência de aproximação de novas formas de se relacionar com todo este universo.
Desde 2009 atuo como educadora no Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde sou responsável pelo programa Família MAM, que integra em sua ideologia e suas ações, a cultura tradicional da infância, que valoriza e respeita o modo de ser e estar de cada criança, fomentando suas invenções e criatividade.
Assim, espero poder compartilhar algumas experiências na coluna Brincando, considerando este um espaço para reflexão, troca e diálogo com todos interessados na arte de contar histórias, na arte de estar em contato com a arte, na arte de brincar!