A.N.A. Agência de Notícias Alternativa

« E agora, José? A festa acabou
A luz apagou, o povo sumiu… »

Carlos Drummond de Andrade

MAIS…

(Bixiga/SP) Em 1964 o jovem José aos 21 anos era o presidente da União Nacional de Estudantes de seu país e participava das articulações políticas nacionais. Participou do Comício da Central, usado como desculpa final pelos militares para darem o golpe. Ao discursar, ao lado do então presidente João Goulart, ele não tinha dúvidas de que um dia chegaria a ocupar a cadeira de presidente da República ! Passava a fazer do carreirismo o ideal de sua vida. Mas veio a ditadura, José foi « renunciado » ao cargo.

UM BRASILEIRO…

Voltou ao Brasil antes da lei da Anistia, participou do grupo do então senador Franco Montoro e assumiu secretaria quando ele foi eleito governador. Renunciou. Queria articular mais alto, no grupo do então candidato à presidente, Tancredo Neves. Eleito deputado constituinte, deixou o cargo para ser candidato a prefeito de São Paulo. Ficou em 5º lugar. Reeleito deputado, deixa o posto para ser secretário em SP. Renuncia para ser candidato ao senado.

NO LIVRO…

Eleito senador, deixa diversas vezes o mandato. Para ser candidato de novo a prefeito. Perde. Ocupa irregularmente dois ministérios nos malfadados oito anos de FHC, a pior era da história do Brasil em tempos de « democracia ». Renuncia a cada ministério para ocupar outro. O persistente carreirista sempre teve apenas um pensamento : chegar à presidente. Se aos 21 já estava no primeiro plano, por que ficar embaixo ?

INTERNACIONAL…

Candidata-se a presidente da República, perde. Eleito prefeito, renuncia. Para ser candidato a governador. Eleito, renuncia. Para ser candidato outra vez a presidente. Derrotado, candidata-se de novo a prefeito. Queria esquentar a cadeira para ser de novo candidato à presidente. O paulistano, cabreiro e cansado de ser enganado, mostra que confiança tem limite e renuncia a votar nele, mesmo depois das pesquisas o apontarem vencedor. Agora, mais uma vez, o insistente José Serra quer, depois de cinquenta anos de vida pública, mais derrotas do que vitórias, e uma sucessão de renúncias, ser eleito senador pelo estado mais influente do Brasil.

DOS RECORDES…

Mas a única certeza que o renunciante ambulante José Serra pode ter, é a de que um grupo de paulistas e paulistanos indicou seu nome ao Guinness Book of Records, tradicional e internacional livro dos recordes publicado na Inglaterra. O político brasileiro é na história do mundo o personagem que mais renunciou. Nem Nixon, celebrado pela mais famosa renúncia, nem Jânio Quadros, nem o Papa Bento, nem os reis abdicantes, em nenhuma outra parte do mundo alguém renunciou tanto e deixou tantos mandatos inconclusos. Quem pensa que ele merece estar no Senado Federal, para mais uma eventual renúncia, deve imediatamente fazer uma pausa para reflexão. Ainda tem tempo… de renunciar ao renunciador.

 

DA CADEIRA DE PRESIDENTE AO BANQUINHO PODRE

Efraim Mellara – Editor

O Brasil é campeão de injustiça social. E é equação matemática. Mais injustiça, mais subdesenvolvimento. A disparidade regional caracteriza o país. Ao longo dos séculos o capitalismo concentrou investimentos no sul-sudeste por razões inerentes ao próprio sistema : a concentração é um de seus princípios definidores.

Assim nasceu o mito de São Paulo mais rico. Patrocinado pelas multinacionais. Mas o trabalhador que arrasta carroça de madeira, usada para catar papéis, para vender e dar de comida aos filhos, debaixo do recorde mundial de helicópteros no céu, e em meio aos carros blindados nas ruas, na maior cidade da América do Sul, é o retrato do fracasso brasileiro. Sem eufemismo, sem frescuras. Subdesenvolvimento. Pobreza.

A abolição da escravatura foi gradual entre as províncias. Algumas foram precursoras, uma resistiu o máximo. São Paulo foi o último a aceitar o que o mundo inteiro pressionava o último país escravocrata a fazer, para entrar no século XX sem a mancha do crime e genocídio.

Vanguarda em outras coisas, em momentos da encruzilhada entre barbárie e civilização, estivemos mais para massacre do Carandiru do que para escola fundada por Anchieta. A São Paulo dos feitores de escravos, dos fazendeiros reacionários e do Brasil injusto, é a de José Serra.

Agora o feliz brasileiro quer ser eleito senador. Mas já foi eleito uma vez. Deixou um suplente rico no lugar, Pedro Piva, rei do monopólio das fábricas de papéis, antítese dos milhares de catadores de papel das ruas paulistas.

Maria era produtora cultural. Fazer cultura em SP é ato heróico no centro da baixaria televisiva nacional. Para realizar um projeto, viajava meses a fio, de ônibus, carona ou fiado, para bater portas em Brasília. Paulo era prefeito de uma das 600 cidades de SP. Tinha que ir à capital federal disputar mais recursos, para não deixar sua cidade no come-e-dorme do Fundo de Participação dos Municípios. Raimundo, o puxador de carroça, nem pensava em ir a Brasília.

Mas se fosse, e precisasse do apoio de um senador, iria encontrar o Piva no lugar do Serra, com a resposta na boca, a mesma que dava às Marias e Paulos : « seu caso não é do meu interesse ». O rico tubarão já tinha pago o cargo ao renunciante ambulante Serra. E os empresários monopolistas brasileiros somente têm um interesse : ganhar e concentrar cada vez mais.

Direta ou indiretamente, todos dependem da ação dos representantes eleitos na capital de seu país. Estão em jogo interesses corporativos, disputas, recursos, nomeações, projetos, programas, enfim, milhões de vidas humanas.

O capitão do mato Zé Serra, porta voz e agente dos banqueiros, que se orgulha de representar a Febraban(Federação dos Bancos) em seu curriculum, e que um dia pensou em ocupar a cadeira de presidente da república, não passa hoje de uma das três pernas que sustentam o banquinho de madeira podre do subdesenvolvimento brasileiro : banqueiros cruéis, empresários monopolistas e políticos corruptos. Merece entrar no livro dos recordes mas também outro prêmio dos brasileiros : aposentadoria.

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