Pré-aqueça o forno a 180 graus ou Preaqueça o forno a 180 graus?

Betty Vibranovski

Pré-aqueça o forno ou preaqueça o forno?
Pré-condição ou precondição?
Pré-concebido ou preconcebido?

A regra para o uso do acento agudo em tais casos – pré ou pre – é a pronúncia aberta ou fechada do “e”.

Isso significa que o prefixo “pré” sempre será seguido de hífen quando tônico, mas ficará sem hífen quando átono.

GRAFIAS CORRETAS:

Precondição, preaquecer, preestabelecido, preexistente, predeterminado, predefinido, preconcebido, preordenar, preestabelecido, predestinação, predisposição, prejulgar, predizer, predominar, pressupor.

Pré-requisito, pré-natal, pré-nupcial, pré-datado, pré-escola, pré-história, pré-sal, pré-estreia, pré-pago, pré-fabricado, pré-molar, pré-adolescente, pré-cozido.

Assim constam essas palavras nos dicionários.

O problema é quando não se distingue o “e” aberto do “e” fechado, como em “preaquecer”, “precondição”, “preestabelecido”.  Aliás, quem pronuncia “preaqueça”, com “e” fechado?  Para ter certeza da grafia, o melhor é consultar o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) ou um dicionário.

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Outras duas duplas de palavras que comportam um comentário à parte são pré-fixado/prefixado e preconceito/pré-conceito.

Prefixar = colocar prefixo em. Para se formar um novo verbo em português, basta prefixar uma forma primitiva.

Pré-fixar = fixar com antecedência. Opõe-se a “pós-fixar”. Termo no âmbito da economia.  Ex.: títulos de renda pré-fixada.

Preconceito = intolerância, “atitude, sentimento ou parecer insensato, especialmente de natureza hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio”.

Pré-conceito = conceito formado a priori, seja favorável ou não.

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Vejam o que diz o Prof. Cláudio Moreno no excelente artigo “Pré-datado?”, em seu site:

Pré-datado?

Por Cláudio Moreno

Como já disse outras vezes, só dois tipos de pessoa não se importam com a ortografia. Há as alminhas rebeldes que pregam a liberdade absoluta no uso das letras e dos acentos por acreditar que uma regra — qualquer espécie de regra — é apenas outra forma de discriminação social que as elites inventaram para perpetuar sua supremacia; para um desses revolucionários de formigueiro, é claro, escrever como lhe der na veneta torna-se um verdadeiro ato de autoafirmação política.

Na outra ponta do espectro, encastelados no topo da montanha, vivem aristocratas como o Cardeal Richelieu, que tachava de plebeia qualquer preocupação com a grafia das palavras. Se ele vivesse entre nós, olharia para o hífen ou para o cê-cedilha com a mesma desconfiança com que a grã-fina olha para o indefectível pratinho de maionese no batizado do filho da empregada. Nós outros, contudo, que não pertencemos a nenhum desses dois grupos, achamos importante seguir, o mais fielmente possível, o modelo vigente, pois só assim fica assegurada a fluidez da leitura. Cada vez que me desvio da norma, quem sai perdendo sou eu, pois levo meu leitor a desviar sua atenção do texto para fixá-la na grafia da palavra.

Por esse motivo, entendo perfeitamente o desabafo do leitor Silvio C., de Campinas, que, como todos nós, vive aos tombos com o misterioso hífen: “Caríssimo professor, o emprego do hífen com o prefixo pre está me tirando o sono. Escrevo pré-escolar e pré-nupcial, mas predeterminado e preestabelecer? É isso? Mas não há critério? O Acordo esqueceu de fazer uma regra para isso?”.

Não, prezado leitor, existe uma regra, sim — na verdade, uma velha regra que está em vigência desde 1943, que o atual Acordo apenas confirmou. Trocando em miúdos, ela reza que o prefixo tônico pré- (bem como seus irmãos pós- e pró-) será sempre seguido de hífen: pré-fabricado, pré-pago, pré-pizza. Esta regra obedece ao princípio básico de que prefixos com sinal diacrítico (acento ou til) são morfológica e fonologicamente independente, devendo, por isso, vir separados do vocábulo que os segue.

Mas… (ouço, ao longe, o Diabo esfregando as mãos…), pelas mesmíssimas razões, a mesma regra determina que as versões átonas desses mesmos prefixos (pre-, pos- e pro-) não serão seguidos desse sinal: predispor, predestinado, preconcebido. É uma regra bem clara, mas, como você mesmo constatou, não serve para coisa alguma. Afinal, quem determinou que em preconcebido o E é fechado e átono, e não aberto e tônico (pré–concebido)? Isso, meu caro, é o 5º mistério de Fátima. Há discussões similares sobre o cheque predatado ou pré-datado, sobre prejulgar ou pré-julgar, sobre preaquecer ou pré-aquecer o forno antes de assar o bolo. Esta hesitação natural sobre a tonicidade do prefixo é histórica e jamais vai ser resolvida; nunca teremos certeza sobre a sua pronúncia e, ipso facto, de sua grafia. O máximo que podemos fazer, nesses casos, é ver o que o Aurélio, o Houaiss ou o Aulete andam fazendo, para então decidir se vamos ou não concordar com a opinião deles.

Artigo do Prof. Cláudio Moreno originalmente publicado em http://sualingua.com.br/2017/03/13/pre-datado/