A grande maioria dos que hoje, dia do quartoemeio centenário do Rio de Janeiro, estão escrevendo ou falando sobre ele nos jornais, canais televisivos e na imensa teia da web, está chamando o aniversariante de cidade. Estão profundamente errados…
Que todos eles me perdoem, mas o Rio não é uma cidade.
O Rio é, antes de tudo, um estado de espírito, uma ginga que desce malandra as escadarias da Lapa, que bamboleia os quadris a caminho do mar, que aninha o sol poente na forquilha dos Dois Irmãos, que toma a saideira no botequim de uma esquina suburbana, que adoraria tirar um selfie com a capivara da Lagoa, que inventa um samba-enredo nas vielas do Salgueiro.
O Rio é, depois de tudo, os braços abertos que a gente vê da janelinha do avião quando chega, o atejá da Ponte Rio-Niterói quando a gente parte, saudade indo, saudade vindo, o sal do mar e a água de côco vivendo na lembrança dos sabores, nas curvas da memória, como curvas têm a sua costa atlântica, a sua garota mais cheia de graça, as ondas dos surfistas.
E o Rio é, no meio de tudo, o dia-a-dia de ônibus cheios, de 45 graus à sombra, de balas perdidas, metrópole que às vezes sangra e chora, morre na descida do morro, apaga um futuro nos becos das favelas, luxo e lixo em proximidade obscena.
Mas o Rio é, sobretudo, o carro alegórico, a bateria e o mestre-sala, o Maracanã em dia de Fla-Flu, uma feijoada completa algures na Zona Norte, a caipirinha bebida defronte ao oceano infinito, o chopp gelado depois da praia, a vista do Corcovado, a espontânea alegria, a alegria da vida, a vida por viver.
Não chamem o meu Rio de cidade. Chamem-no de samba, mar, montanha, céu azul, sol tropical, natureza aberta, riso nos lábios. Chamem-no de festa, de floresta, de cor. Chamem-no de AMOR.
Oswaldo Pereira
Março 2015
Para os que quiserem reler o texto que escrevi sobre o Rio em novembro de ano passado, é só clicar no link abaixo.
http://obpereira.blogspot.com.br/2014/11/cidades-que-dao-musica-iii.html